Informação e Opinião
Por Valmir Lima, do ATUAL
MANAUS – A pérola do dia 23 de abril de 2025 foi o vídeo gravado por gente do ex-presidente Jair Bolsonaro em um quarto de hospital quando ele recebeu intimação de uma oficial de Justiça para comunicá-lo sobre o prazo para apresentação de defesa no processo em que é réu por tentativa de golpe de Estado e outros crimes. O vídeo é uma farsa, assim como a internação parece ser a mesma coisa guardadas as proporções da cirurgia a que foi submetido.
Do lado de fora do hospital, Silas Malafaia, pastor de uma igreja evangélica e conselheiro de Bolsonaro, vociferava contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, a quem adjetiva como “ministro desgraçado” por determinar a intimação do ex-presidente. Silas Malafaia, num tom arrogante, reclamava por ter Alexandre de Moraes autorizado a entrada de uma oficial de Justiça na “CTI de um hospital para para intimar um paciente”.
Porque o vídeo da intimação e a fala de Malafaia são uma farsa? Porque o próprio Bolsonaro transformou o quarto do hospital em comitê político. Não há nada naquele quarto que caracterize uma UTI. O paciente também não tem comportamento de quem está precisando de terapia intensiva.
Atenção aos fatos: No dia 21 de abril, Bolsonaro concedeu uma entrevista a um jornalista do SBT exibida em horário nobre, de dentro do quarto que ele chama de UTI. Um dia depois, no dia 22, ele participou de uma live organizada pelos filhos Flávio e Eduardo Bolsonaro, com a participação do ex-piloto de fórmula 1 Nelson Piquet. Nos dois casos, foram instaladas câmeras e equipamentos de transmissão ao vivo dentro do quarto do hospital.
Nos dois casos, Bolsonaro não demonstrou qualquer sofrimento, como vinha fazendo nos dias anteriores, com postagens de vídeos e fotos, sem camisa, com cicatrizes na barriga à mostra, e textos informando que permanece na UTI.
A um paciente que precisa estar na UTI não são permitidas as extravagâncias que Bolsonaro têm mostrado nas redes sociais. As caminhadas pelos corredores do hospital, filmadas e postadas em seu perfil, destoam de uma pessoa que precisa de terapia intensiva.
Na entrevista e na live, Bolsonaro se mostra muito melhor do que qualquer paciente estaria em uma UTI. O acesso a uma UTI é sempre muito restrito, mas não na internação de Bolsonaro. Certamente equipes técnicas precisaram adentrar o recinto para instalar os equipamentos de transmissão.
No dia 23, no momento em que a oficial de justiça adentra a sala para entregar a intimação a Bolsonaro, uma câmera já está ligada, manipulada por alguém que está do lado direito do leito do ex-presidente. Não foi coincidência. Bolsonaro sabia que receberia a visita de representante da Justiça e preparou o cenário e a cena que depois compartilhou em seus perfis nas redes sociais. E solicitou a seus seguidores que compartilhassem.
Silas Malafaia também sabia que a oficial de justiça visitaria Jair Bolsonaro. A produção dos vídeos tanto de um quanto de outro é uma forma de lacração, planejada, com o objetivo de causar comoção no público. O “coitadinho” enfermo foi duramente atacado por Alexandre de Moraes. Qual foi o taque? Uma intimação, comunicando que ele tem prazo de 5 dias para apresentar defesa como réu.
Quem está ativamente nas redes sociais, concedendo entrevistas, fazendo live para pedir anistia aos golpistas do 8 de Janeiro de 2023 e sua consequente absolvição sem julgamento, não pode reclamar de uma visita gentil, como foi a de oficial de Justiça, na quarta-feira (23).
E mais. Bolsonaro poderia ter se recusado a assinar e pedir para a oficial de justiça se retirar. Simples assim. Ou poderia assinar o papel e dispensá-la. Mas preferiu fazer um longo discurso, enfadonho, que o levou a um pico de estresse quando um enfermeiro lhe pediu para medir a pressão arterial. Gritou com o profissional do hospital, como se não estivesse enfermo.
As encenações de um e de outro (Malafaia e Bolsonaro) revelam o nível abjeto de ambos. Eles têm certeza de que estão, de novo, metendo os pés pelas mão, e a mesma certeza de que os seguidores cegos e os desavisados cidadãos brasileiros de boa fé vão acreditar na farsa.