Do ATUAL
MANAUS – A erosão nos rios da Bacia Amazônica causa a emigração de comunidades ribeirinhas que antes estavam próximas ao rio e dificulta o acesso ao transporte e a bens de primeira necessidade, mostra estudo do geólogo André Zumak publicado na revista científica inglesa Nature.
“Isso gera muitos desafios sociais, como manter a história da comunidade por meio da memória humana que depende de elementos espaciais do território”, diz Zumak na publicação.
Na pesquisa foi usada a técnica de “teledetecção” [imagens de satélite] para analisar a região do município de Tefé (a 523 quilômetros de Manaus) onde o fenómeno da erosão, conhecido regionalmente como “terras caídas”, causou a destruição de comunidades inteiras, incluindo escolas e portos. Também houve mortes de moradores.
“Alguns exemplos ilustram o perigo que pode ser esta paisagem fluvial. A comunidade de Caburini (na beira do Rio Japurá), se destaca como uma das localidades mais afetadas pelos sedimentos com o surgimento de grandes praias que afetam o transporte da população local durante o período seco. Devido à grande distância entre a comunidade e o Rio Amazonas, já emigraram três vezes mais pessoas desde o ano 2000”, diz o pesquisador.
O estudo estima também que 69 mil pessoas vivem em áreas de risco de erosão ao longo do rio e propõe fazer um mapeamento mais detalhado sobre o “risco humano” em grande escala, para evitar possíveis catástrofes ao longo do rio Solimões.
“Poucas iniciativas foram feitas neste contexto, como o mapeamento de risco a nível comunitário, realizado pelo SGB (Serviço Geológico do Brasil). Portanto, é fundamental melhorar a nossa capacidade para mapear o risco humano em grande escala”, diz o texto.

O objetivo do estudo é proporcionar um mapeamento mais detalhado a nível regional do risco humano, devido à erosão e sedimentação dos rios, e analisou os principais desafios das comunidades com risco muito alto a moderado.
Entre as 254 localidades mapeadas pelo estudo, 18,5% estão afetadas por sedimentos, ou seja, restos de terra ou rochas, 26% por erosão de margens de rios e o 55,5% estão em situação estável.
A pesquisa conclui que a maioria das comunidades que sofrem erosão, estão localizadas em áreas planas (82%) e 18% em terras altas. Apesar de o pensamento geral de que as comunidades em terras altas estão livres dos perigos, por ter sedimentos mais fortes e consolidados, também são afetadas pela erosão.
“A partir de a informação socioeconômica revelada, identificamos que, de um total de 11.483 pessoas na Reserva Mamirauá, na Amazônia Central, 73% vive em ambientes planos inundáveis e só 27% em terras Altas. Nossa análise mostra que a metade da população vive em áreas geomorfologicamente estáveis, 5.715 pessoas. A fração restante se vê diretamente afetada por processos de erosão ou sedimentação”, diz o levantamento.
O estudo recomenda que haja políticas públicas para as comunidades afetadas pelo fenômeno da erosão ou das “terras caídas”, que destroem territórios e isolam os ribeirinhos.
“Embora a maior parte das preocupações na Amazônia está relacionada com o aumento de enchentes e secas nas últimas décadas, é fundamental que as políticas públicas abrangem de maneira mais amplia os processos de riscos de erosão e sedimentos. Esse processo pode conduzir a grandes impactos e à emigração de comunidades”, diz o pesquisador.