MANAUS – Com 69 Terras Indígenas, 42 Unidades de Conservação e 13 municípios, a rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho/RO) é um dilema ambiental na Amazônia. De um lado, políticos defendem o asfaltamento da estrada, de outro ambientalistas e indígenas preferem a proteção de seus territórios e da fauna e flora.
Nesse impasse, os indígenas dispõem de uma ferramenta para defender suas terras de impactos ambientais e sociais com a recuperação da rodovia. Trata-se do Mapa Interativo do Observatório BR-319 lançado no Acampamento Terra Livre, em março, em Brasília.
O mapa reúne dados como identificação de terras indígenas, desmatamento, focos de calor, ramais, degradação ambiental, e projetos de infraestrutura. A plataforma foi desenvolvida pela ONG Observatório BR-319.
“Por meio dessa plataforma digital, fazemos análises visuais de mapas e o monitoramento de obras da BR-319. Entendemos que o raio de quilometragem para fazer um estudo de impacto ambiental é de 40 quilômetros, mas sabemos que o impacto vai ser muito maior. E, para ajudar na governança do nosso território, usamos esse recurso digital”, diz Thiago Castelano, da etnia Parintintin, da terra indígena Ipixuna, e membro da gerência de monitoramento territorial da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).
O mapa está sendo utilizado por lideranças e organizações indígenas como instrumento para articulação e defesa territorial. “Esse mapa é uma ferramenta construída a partir da nossa vivência, do nosso território. Não é só um desenho no computador, é uma forma de mostrar que estamos atentos, que não vamos permitir que passem por cima de nós em nome do desenvolvimento”, disse Thiago Castelano.
A mobilização incluiu indígenas das etnias Mura, Apurinã, Paumari, Jiahui, Tenharim, Parintintin. Muitos desses povos vivem em áreas estratégicas para a conservação da Amazônia e convivem com os efeitos da pressão de projetos de infraestrutura no Interflúvio Madeira-Purus.
“Nós entendemos que as obras na rodovia, o desmatamento, a contaminação dos nossos rios vão chegar e podem enfraquecer nossos territórios, vamos ter menos recursos naturais. A partir das informações, vamos poder comprovar as degradações ambientais e as consequências, e procurar ajuda jurídica e ambiental”, diz Castelano.
Para as lideranças indígenas, informações precisas são uma “arma” mais eficaz para combater invasões de grileiros, garimpeiros e madeireiros em suas terras. Também podem negociar projetos econômicos amparados na conservação e obterem financiamento estrangeiro.
A plataforma também pode ser acessada pelo celular. Segundo Castelano, os dados são atualizados frequentemente.