MANAUS – Em resumo, os bolsonaristas não aceitaram a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, acamparam nas portas dos quartéis do Exército em diversas cidades brasileira para protestar contra o resultado das urnas e a derrota de Jair Bolsonaro, exigindo a tomada de poder pelas Forças Armadas e, no dia 8 de janeiro de 2023 invadiram e depredaram os prédios dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do STF (Supremo Tribunal Federal).
Os vândalos não estavam ali apenas para protestar, mas para exigir que as Forças Armadas tomassem o poder e devolvessem o comando do Brasil ao derrotado Jair Bolsonaro, que assistia aos acontecimentos dos Estados Unidos, para onde fugiu antes do fim do mandato. A fuga não parece ter sido apenas para não ter que passar a faixa presidencial a Lula, que o derrotou pelo voto popular, mas para evitar qualquer suspeita de que ele participou da trama golpista.
Passados dois anos, descobriu-se que a ocupação dos quartéis e os atos de 8 de janeiro representaram apenas a ponta do iceberg. As investigações da Polícia Federal concluíram que houve uma trama, e que ela não começou após o resultado das eleições, mas pelo menos dois anos antes.
A Polícia Federal conseguiu montar o quebra-cabeça com uma série de acontecimentos, que começam com a contestação da segurança das urnas eletrônicas, após o STF anular o julgamento que resultou na prisão de Lula e o tornar elegível. Ali era o início de um processo cuja intenção era não deixar que o poder escapasse pelos dedos das mãos de Bolsonaro. Contestar as urnas era necessário, na visão bolsonarista, para justificar a não aceitação do resultado em caso de derrota.
Reuniões gravadas com Jair Bolsonaro e seus ministros mostram claramente que a intenção era fazer “uma virada de mesa antes das eleições”, nas palavras do general Augusto Heleno, então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência.
Depois das eleições, em 7 de dezembro de 2022, autoridades do Palácio do Planalto se reuniram com Bolsonaro para cobrar apoio do Exército e da Aeronáutica ao golpe, uma vez que os comandantes dessas duas forças eram contrários às medidas que visavam a tomada de poder pela força. Apenas o comandante da Marinha apoiava o golpe.
Mais tarde, a PF também descobriu uma trama para matar o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Os crimes seriam executados pelos “kids pretos”, um grupo de militares da ativa ou da reserva do Exército, especialistas em operações especiais. O plano não foi adiante.
Desesperados depois da posse de Lula, os golpistas tentaram a última cartada: invadiram as sedes dos Três Poderes da República, depredaram o patrimônio, destruíram o plenário do STF, parte do plenário do Congresso Nacional e quebraram obras de arte e relíquias do Palácio do Planalto.
Ninguém estava ali apenas para protestar contra a vitória de Lula, mas com a intenção de tirá-lo do poder. O ataque não foi apenas ao patrimônio público, que é de todos os brasileiros, mas à democracia brasileira, que fora reconquistada há menos de 40 anos, depois de 20 anos de autoritarismo dos militares.
Essas pessoas que tramaram o golpe e que foram às ruas tentar depor o presidente eleito pelo voto popular pregam a democracia, mas atentam contra ela diuturnamente. Elas negam a repressão militar imposta ao Brasil desde o golpe de 1964 até a redemocratização em 1985. Pisoteiam a Constituição Federal, promulgada em 1988, depois de muita luta e muito sangue derramado.
Agora, pedem anistia aos golpistas, mais com a intenção de livrar Bolsonaro e seus aliados da cadeia, em iminente condenação no julgamento que se aproxima no Supremo Tribunal Federal, depois que a 1ª turma aceitou a denúncia e tornou réu o ex-presidente e sete de seus ministros e auxiliares. Negam a tentativa de golpe, e exigem provas. Ora, eles todos sabem que em um planejamento de golpe não se produzem provas, apesar de deixarem uma série delas espalhadas pelo caminho.
Felizmente o golpe não se concretizou. Mas a Código Penal Brasileiro prevê não a punição a quem executa o golpe, mas a quem o tenta, porque, no êxito, o golpista é quem dá as ordens, e geralmente as ordens são para eliminar os adversários, como o fizeram de 19964 a 1985.